Empresário e advogada mortos em meio à disputa por herança no interior de SP podem ter sido vítimas de emboscada, diz polícia

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Carlos Salomão é o principal suspeito de matar o irmão Rogério dentro de um supermercado desativado em Jardinópolis (SP) na quarta (30). Polícia pediu à Justiça prisão temporária dele.

Por EPTV e g1 Ribeirão Preto e Franca

01/11/2024 02h00 Atualizado 01/11/2024

Empresário disse que viu irmão saindo com arma da cena do crime em Jardinópolis

A Polícia Civil investiga se o empresário Rogério Salomão, de 52 anos, e a advogada dele, Lilian Cláudia Jorge, de 50 anos, mortos a tiros dentro do galpão de um supermercado desativado em Jardinópolis (SP) na quarta-feira (30), foram vítimas de uma emboscada. O principal suspeito é um irmão de Rogério, Carlos Salomão, ainda não encontrado pela polícia.

As mortes ocorreram em meio a uma disputa entre os irmãos pela herança deixada pelo pai, dono de uma rede de supermercados. Segundo o delegado responsável pelas investigações, Sebastião Vicente Picinato, a disputa era marcada por ameaças dos envolvidos.

“A gente viu que, depois da morte do pai, acirrou-se uma disputa por sucessão hereditária, disputa de bens. As ameaças eram recíprocas entre os irmãos. Se essa circunstância [premeditação] se confirmar, a gente pode pensar em uma terceira qualificadora, que seria uma emboscada, com o artifício de atrair alguém para determinado local e ali fazer a prática de um crime”, disse.

Galpão de supermercado onde empresário e advogada foram mortos em Jardinópolis, SP — Foto: Jefferson Neves/EPTV e arquivo pessoal

Rogério e Lilian foram atingidos por pelo menos 14 disparos. As vítimas foram ao local para, em princípio, receber de Carlos as chaves do galpão, que pertencia a Rogério.

Um terceiro irmão, Diego Salomão, chegou a prestar depoimento à polícia e disse que, logo após o crime, viu Carlos deixando o barracão com um objeto semelhante a uma arma de fogo.

“Ele fala que viu o Carlos saindo, trazendo em sua mão um objeto, que, inicialmente, ele havia me dito que seria uma arma de fogo, mas ele não pôde precisar, com certeza”, afirma o delegado.
Diante desses primeiros indícios, a Polícia Civil pediu à Justiça a prisão temporária de Carlos pelo período de 30 dias. Até a publicação desta reportagem, não havia uma resposta sobre o pedido.

A defesa do suspeito foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou.

Quantas pessoas participaram do crime?
O que a polícia também apura é a eventual participação de mais pessoas nos assassinatos. Isso porque as 14 cápsulas deflagradas encontradas no local sugerem que foram utilizadas duas armas diferentes, o que pode indicar a participação de uma segunda pessoa.

Para isso, os investigadores devem buscar imagens de câmeras de segurança próximas ao galpão, além de ouvir novas testemunhas nos próximos dias.

“Nós queremos saber quantas pessoas entraram no galpão, se era somente o Carlos ou se tinha mais alguém. Por qual o motivo que o Diego se encontrou com com o Carlos anteriormente? De fato, foram tratar de um assunto relacionado à venda de um imóvel? São perguntas importantes que merecem respostas satisfatórias”, completou o delegado.

Polícia Científica recolheu cápsulas de calibre 9 milímetros e 380 de galpão onde empresário e advogada foram mortos em Jardinópolis (SP) — Foto: Reprodução/EPTV
Polícia Científica recolheu cápsulas de calibre 9 milímetros e 380 de galpão onde empresário e advogada foram mortos em Jardinópolis (SP) — Foto: Reprodução/EPTV

Nos tópicos a seguir, veja o que se sabe e o que ainda está em investigação sobre o caso.

Quem faz parte da família Salomão?
Que imóveis estavam em disputa?
Como foi o crime?
Que provas foram recolhidas pela perícia?

1-Quem faz parte da família Salomão?
As mortes colocam em contexto uma disputa entre herdeiros de Márcio Salomão, conhecido dono de uma rede de supermercados em Jardinópolis que morreu em 2022.

Ele teve seis filhos, quatro deles de um casamento de 56 anos – entre eles Rogério – e dois fora dele – Carlos e Diego Salomão.

Carlos Salomão, Rogério Salomão e Diego Salomão, em Jardinópolis, SP — Foto: Arquivo pessoal

2-Que imóveis estavam em disputa?
Márcio deixou vários bens, entre eles sítios na região, terrenos e uma casa em Ribeirão Preto (SP). A escritura de inventário e partilha entre viúva e os seis filhos foi assinada em dezembro de 2022.

“Não havia divergência com relação ao inventário. São seis filhos, dois dos quais apenas por parte de pai, que faleceu. Aliás não foi nem uma ação, foi feito tudo de forma consensual, a partilha dos bens por ocasião do falecimento do seu Márcio”, afirma o advogado Marco Antônio Tronco, que defende os interesses de Antônio Salomão, o filho mais velho de Márcio.

As recentes mortes do empresário e da advogada, no entanto, têm como contexto divergências quanto ao galpão ddo supermercado, na Vila Reis, em Jardinópolis, e outro imóvel comercial que fica em frente.

O prédio comercial em Jardinópolis, de acordo com apuração da EPTV, que inclusive gerava renda com aluguel pago por uma assistência técnica de celulares, não entrou para o inventário do patriarca porque não estava registrado no nome dele, mas posteriormente acabou adquirido por R$ 20 mil por Rogério.

Essa transação motivou Carlos e Diego a ajuizar uma ação contra o empresário tanto para embargar o registro no nome do irmão, questionando o valor abaixo de mercado, e pedindo indenização por danos morais porque o prédio não havia entrado no espólio da herança. Em agosto deste ano, eles conseguiram, em decisão na 1ª Vara de Jardinópolis, suspender a transferência do bem para o nome de Rogério.

O supermercado já era de propriedade de Rogério antes da morte do pai, mas continuou com Carlos, que permaneceu conduzindo as atividades comerciais no local, segundo Tronco.

A discordância com relação a esse imóvel ocorreu quando Rogério passou a cobrar de Carlos aluguel pelo uso de espaço, de acordo com Tronco. Em meio ao impasse, Rogério chegou a ingressar com uma ação pedindo os valores e a desocupação.

As divergências foram discutidas e solucionadas com a intermediação de advogados, entre eles Lilian, e, na quarta-feira (30), com o galpão já desocupado, a expectativa era de que Carlos entregasse o imóvel para Rogério.

“A divergência surgiu quando obviamente o Rogério no direito de propriedade e de uma parte que não havia sido partilhada porque não havia motivo, ele requereu ao irmão que fizesse a locação ou que entregasse o imóvel, até porque a marca Salomão Supermercados pertence à vítima, ao Rogério. Quando houve alguma divergência após todos assinarem o formal de partilha, o que aconteceu? Essa divergências foram sanadas através dos advogados”, afirma Tronco.

3-Como foi o crime?
De acordo com boletim de ocorrência, na quarta-feira, Rogério e a advogada Lilian foram até o galpão se encontrar com Carlos para receber dele a chave do imóvel e firmar um termo de entrega do imóvel e um termo de vistoria de saída.

Mas, por volta das 10h30, Rogério e Lilian acabaram baleados por cerca de 15 disparos de arma de fogo. Segundo o boletim de ocorrência, indícios no local apontam que o crime ocorreu em um compartimento localizado nos fundos do imóvel.

As vítimas foram levadas ao pronto-socorro central, mas não resistiram.

4-Que provas foram recolhidas pela perícia?

O galpão foi isolado e periciado por agentes que encontraram dezenas de cápsulas de armas calibre 9 milímetros e 380, além de marcas de sangue a cerca de 4 metros de distância de onde as vítimas teriam sido alvejadas.

Perto de onde Lilian foi baleada, sobre uma estrutura de concreto, os peritos encontraram e apreenderam documentos – “Termo de Entrega de Chaves de Imóvel Comercial” e “Termo de Vistoria de Saída” – que não tinham nenhuma assinatura.

De acordo com o registro da Polícia Civil, também foram obtidas imagens de câmeras de segurança do entorno do galpão.

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