O treinamento online de pais é tão efetivo quanto o presencial para o apoio do gerenciamento dos sintomas de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes, segundo um novo estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R).
O artigo, publicado na revista científica Frontiers in Psychology em fevereiro deste ano, mostrou que a modalidade virtual pode ser eficaz no tratamento de TDAH e pode “derrubar barreiras” ao acesso às intervenções tradicionais e presenciais para o transtorno.
“O treinamento a distância pode ser mais acessível e abrangente que a intervenção convencional, dado sua capacidade potencial de derrubar uma série de barreiras ao acesso às intervenções tradicionais presenciais. Estratégias de engajamento, como comunicação por e-mail e WhatsApp, foram eficazes na adesão ao treinamento online”, afirma o neuropsicólogo Jonas Jardim, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos autores do estudo.
Os pesquisadores, sediados na Faculdade de Medicina da UFMG, acompanharam 66 crianças com TDAH e com problemas de comportamento opositivo-desafiador — caracterizado pela dificuldade de respeitar a autoridade dos pais ou dos professores.
Elas foram divididas em três grupos: um seguiu o tratamento convencional determinado por um médico especializado; os outros dois grupos fizeram o tratamento convencional e também foram submetidos a um programa de treinamento de pais, uma parte presencial, acompanhada por uma equipe de médicos e psicólogos, e a outra parte online.
“Uma constatação importante é que não houve diferenças entre a modalidade do treinamento, presencial ou virtual”, destaca Jardim.
O que é TDAH e como o treinamento de pais pode ajudar
O TDAH é caracterizado, principalmente, por dificuldades de controlar a própria atenção e comportamento. Muitas vezes, está relacionado à dificuldade de aprendizagem, de conduta e de controle das próprias emoções.
Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos tenham TDAH. Sem o tratamento adequado, as relações sociais e de trabalho podem ser comprometidas, caso os sintomas cheguem à vida adulta.
Nesse cenário, o treinamento de pais serve como um tratamento não medicamentoso eficaz para desenvolver atitudes dos pais ou responsáveis, tanto para valorizar e promover o comportamento positivo de crianças com o transtorno, quanto para capacitá-los a contornar comportamentos negativos relacionados à condição.
Questões como preço das sessões, disponibilidade de serviços especializados e desafios logísticos, por exemplo, podem dificultar o acesso da família ao treinamento dos pais presencial. Nesse sentido, o desenvolvimento de plataformas de treinamento online autodirigidas tem se mostrado uma solução promissora para aumentar o acesso ao tratamento do TDAH.
“Por ser autodirigida, a plataforma é mais facilmente adequada à realidade de cada família, tendo potencial de alcançar um grupo maior de pessoas ao mesmo tempo, a custo baixo”, afirma Jonas Jardim. “Essa característica, inclusive, permite que ela possa ser disponibilizada também pelo Sistema de saúde Pública brasileiro. Isso pode melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida das crianças com TDAH”, esclarece.
“Investir em tratamentos que mostrem boas evidências de eficácia para crianças com TDAH apresenta um benefício importante a longo prazo”, afirma Jardim. Se o impacto do transtorno na infância puder ser reduzido, a expectativa é de que isso possa resultar em ganhos tanto para o desenvolvimento cognitivo e emocional dos jovens com TDAH, quanto para a redução dos custos associados à saúde e à educação destas pessoas, além de melhorar sua qualidade de vida e sua satisfação pessoal.
Para o futuro, os pesquisadores preveem a realização de uma nova pesquisa para explorar evidências adicionais sobre a eficácia dessas intervenções e sua aplicabilidade em diferentes contextos. O objetivo é tentar descobrir se há diferença entre o tipo de resposta clínica de uma e outra abordagem, se os resultados são heterogêneos e se há manutenção das estratégias após as intervenções.
TDAH: entenda o que é, características e possíveis tratamentos
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Fonte: www.cnnbrasil.com.br