Comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen descreveu os marinheiros que participaram da Revolta da Chibata, em 1910, incluindo Cândido, como abjetos
25 de abril de 2024, 11:32 h
Marcos Sampaio Olsen (Foto: Pedro França/Agência Senado)
247 – O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, expressou críticas ao projeto de lei que propõe a inclusão de João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata em 1910, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Olsen argumentou que homenagear o militar representaria a celebração de um exemplo de conduta “reprovável” para os brasileiros, informa a Folha de S. Paulo.
Ele descreveu os marinheiros que participaram da revolta, incluindo Cândido, como abjetos e afirmou que homenageá-los seria equivalente a exaltar características que não favorecem “o pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito”. Ele classificou o evento como vergonhoso e deplorável.
“Aponto, por conseguinte, que incluir, no Livro de Heróis da Pátria, João Cândido Felisberto ou qualquer outro participante daquela deplorável página da história nacional […] seria o mesmo que transmitir à sociedade, em particular, aos militares de hoje, que é lícito recorrer às armas que lhes foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”.
ENTENDA – A Revolta da Chibata foi um movimento de insurreição ocorrido em 1910, protagonizado por marinheiros da Marinha do Brasil. O evento teve lugar no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, entre os dias 22 e 26 de novembro. O líder mais conhecido dessa revolta foi João Cândido Felisberto, apelidado de “Almirante Negro”.
Os marinheiros rebelaram-se contra as condições desumanas a que estavam submetidos, especialmente o uso de castigos corporais, como a chibata, que ainda eram práticas comuns e sancionadas pela legislação naval da época. Naquele período, a Marinha brasileira estava passando por um processo de modernização, adquirindo novos navios e equipamentos, porém, as condições de vida e a disciplina nas embarcações mantinham-se arcaicas e severas.
Durante a revolta, os marinheiros tomaram controle de quatro navios de guerra: Minas Geraes, São Paulo, Bahia e Deodoro, e ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro se suas demandas por melhores condições de trabalho e a abolição dos castigos físicos não fossem atendidas.
O governo brasileiro, presidido por Hermes da Fonseca, inicialmente tentou negociar, prometendo anistia e a suspensão dos castigos. Os marinheiros desocuparam os navios após o governo se comprometer com essas reformas. No entanto, embora a revolta tenha resultado na proibição do uso da chibata, muitos dos líderes e participantes sofreram perseguições e represálias nos anos subsequentes. João Cândido, por exemplo, foi preso e internado em um hospital psiquiátrico, sofrendo por muitos anos as consequências de sua liderança na revolta.